quinta-feira, 2 de maio de 2013

Valium

Escrevo pois estou deveras descontente, escrevo pois não sei fazer outra coisa, escrevo pela falta de algo que fui, escrevo para me encontrar, escrevo pela falta da interina felicidade, somente escrevo.
Aqui estou mais uma vez refém das minhas palavras, outrora sou vazia, demasia em falta, noutra forma de representação formada,existente em estilhaços, quebrada, fraca e volúvel. Formidável bolha, vagando entre as linhas azuis, vagando em papel timbrado, solúvel como café, poeira de persianas causadas por metáforas de colisão em verdade. Mas que verdade?
A falta do que se é, a falha do que formou, a exatidão de uma onda, a linha do equador que divide minh'alma em larva vulcânica, tóxica, chuva acida... Fenômeno, palavra pueril, significado, qual seria o grande fenômeno da vida; Vida, isso é a velocidade intermitente da perda, da impotência,  da falta de luz, quem houvera de roubar minh'alma, que arrombo em meu amago ocorreu? Alguém se pergunta pela falta do que fui?
Olhar ao horizonte e ver novamente o sol se por, como mais um dia de espera do fim, da linha tênue que separa um batimento cardíaco, da paralisação gangrenal, a produção demasiada de endorfina, amolece,  causa o turvo, o mórbido, a viagem ao submundo. É como se o sol pedisse férias.
Eu já fui sol, já projetei ilusoriamente o mundo de luz, eu já fui brilho, já...
Somente existo, uma existência que já deixou de ser somente palavra, mas como não posso mais viver, invento e a transformo em texto, por ataque, flagelação eu escrevo.



Expurgo


Eu nasci sendo indesejada, eu cresci sendo indesejada, eu vivo causando chuvas intempestivas em mim, em si.
Seria muito narcisismo pensar que vivo as culpas e medos de quem me rodeia?
O mundo é tão grande, mas em meados momentos acredito que minimiza e passo a ser o centro de devastação do meu próprio mundo e do mundo ao lado. É como se você tivesse um vizinho assassino, usurpador, um ser com problemas em cumprir o que é cível e você passa a viver com medo, receio, mal aproveita a vida, mal sai às ruas, não pede uma colher de chá emprestada, nem ao menos se importa com os outros vizinhos, pois você esta em perigo. Ou que você não saiba, vive enganado por alguém sensível, poético, bom, mas que no fundo é um monstro que causa inúmeros danos a sociedade, sim o falso medíocre ser humano.
Não há como rebuscar a realidade, o que verdadeiramente coloco nesse papel é que sinto o escuro da noite, o cavaleiro das trevas, a moeda sem valor, o abismo, o suposto inferno, o ato de Lady Mackbeth de lavar as mãos. Sim a droga do entorpecente que causa 5 segundos de prazer e a dependência da paranoia  O mal irremediável não seria até que muito para o verdadeiramente quem sou, seria os demais para quem vive com uma espada nissei cravada na jugular, por não ser o vizinho que você pensou... O vizinho que faz os rituais macabros com seu nome pensa que você é o pior entre os melhores que se dedica em lhe causar discórdias, de certezas, o nada que causa tudo, o tudo que verdadeiramente é nada.
Não tenha medo do escuro, ele apenas é a ausência de luz.



Alcatraz


Meu coração bate em meio a um cercado de arame farpado, a pressão arterial é tanta que acontece um expurgo sanguíneo das feridas coaguladas. Bate na boca o gosto do medo, escorre pelos tecidos a insegurança.
Oh, bela máquina de desintoxicação supérflua, máquina que produz em si o medo, repete medo, medo, medo, batendo ao som de medo, de falha de medo.
Os olhos de condenação, os olhos de repressão, solta fagulhas de fracasso, abre-se ao redor com mágoa, o beijo da face angustiosa, quanto sangue, quanto medo, a terrível lembrança do afago, do amor, da respiração livre...
A liberdade que se torna um alcatraz, imensas grades, latrinas sujas, fedor de morte, comida como pus, alimentos alienado e solitário vazio da mente criminosa. Não, não há crime, somente um mero artifício para se sentir, ou justificar, o líquido fidentino de cor escura que escorre por entre as vias arteriais, o sangue do bem misturado ao tóxico do mal, venoso.
O coração range silenciosamente, o sangue já está rarefeito, o cérebro da máquina não coordena mais o raciocínio, a lógica vira ficção, transforma-se num cenário de Hitch Cock formando a Red House em Black, num envoltório de fumaça sempre muito utilizada pelo mestre das grandes telas.
A máquina que trabalha incansavelmente pelo torpe do Trash, a estrutura montada por inoxidáveis aços interligados ao sangue reintegrando os medos em sua prisão, o alcatraz do espelho, a cerca de arame farpado que lhe envolve estilhaçando suas entranhas e lhe tornando prisioneiro dentro de um roteiro. 

Jogo da Vida


   Queimada em brasa, esquartejada, enforcada em sacrifício da luta, bandeira em meio pau em nome de ti.  A bruxaria que foge ao sádico envolve a sua alma e transborda na fraqueza de ser humano fálil, repetitivo e assombrado pelos seus fidentinos subterfúgios. Maldita quimera montada em seu lúdico, não há verdade, não há estória, são apenas contos inventados, mascarados pelo ódio da falta de verdade.Assim que lhe vejo, somente um “conto”. E em nome de meu caráter hasteio a bandeira da mentira, em luto.