sexta-feira, 27 de abril de 2012

Blackout

Tic Tac, Tic Tac, são sinais de pulsação, Tic Tac, sim sinais de vida, Tic Tac, velocidade média de 70 batimentos por minutos, Tic Tac é assim que bate meu coração, Tic Tac também faz a minha mente, comprimidamente pressionada contra a parede visceral, Tic Tac ocorreu um breu Tic, agora caminho, por entre as castigadas gondolas de minha mente, sim um fast food programado a ele, sim, aquele que me toma por entre as noites, que me faz refém de sua intimidade obscura, que me transforma no que não sou ou por ventura  sou se me ver, ou me vejo e não creio.
Comodo Tic Tac, se esvai, eu não o escuto mais, percebo a dilatação de minha pupila, o olhar de perseguição, perseguir, perseguir o que? Seria comodo a estadia desse sujeito que aos poucos se transforma em mim, ou me transforma em si, complexo e confuso, como as entranhas resilientes da carcaça. Criatura de ditos e morais, cuspidas em palavras dispensadas pelas mazelas de seu frágil vocabulário, você que me toma, eu que te suplico a glória de fidentino vácuo, passarei sim por a trilha dos que não foram, das tormentas de um interno apocalipse, declaro guerra a você, declaro guerra ao que você é, declaro por livre despudor chulo que aqui me invade, matarei o seu ninho, derreterei suas lanças e me lançarei ao incomodo de sua utópica castidade.
Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, Tic Tac, sangue, medo, remorso, pulsação alterada 140 batimentos por minuto, você no chão e seu coração assegurados pelos meus ralos e minúsculos dedos. 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Julieta

Criatura sombria de vasto despudor, percorre as mazelas escuras e viela sujas de fedor. Se arrasta por entre os escombros de sua falsa moral, dilacera as entranhas figurativas da escuridão, morbidamente observa os felinos grunhidos da penumbra, brinca com a morte, cria subterfúgios fedentes e utiliza dos feromônios noturnos.
Ora e quem não se presta a tal comportamento por desmedidos momentos? 
Essa que arrasta a esquina por entre seus fortes fios de vida, que repousa em qualquer superfície, que supera a própria alteridade do espelho, comete crimes em demasia e se flagela a toda hora. Contando com a pura ingenuidade de apenas viver a vida, que irônico, que despretensão, criatura lamentável, ao mesmo que torna a sua passagem carimbada, se deixa amordaçar pela hipocrisia de Shakespeare. Não estou criticando a obra do grande poeta, apenas ressaltando as fatalística vida dessa criatura, que deseja amar, amar perdidamente, que deseja ser, ou pensando melhor, ou não ser, independente da questão. Aquela criatura que procura um Romeu, um Romeu dos romances que não existe que foi contado, que foi criada e inventada. Essa Julieta é apenas uma brisa escura que acha poder percorrer todos os caminhos e no fim da trilha encontrar o furor da poesia. 
Pobre Julieta envenenada por um sentimento, ludibriada pela doce esperança Shakesperiana. E a criatura leitora da teoria, esperava que Julieta respirasse e em longo e profundo beijo se envenenasse pelo amor, sim o amor que cria asas e fabrica vulcões. Mas, a erupção causada pela morte venceu a criatura.