segunda-feira, 16 de maio de 2011

100°C

Lençóis brancos e macios. Emaranhado de tecido, um chá de ervas finas, um livro de sebo e muita solidão.
As palavras em simetria de severa nostalgia, olhos marejados de saudade, mãos frias de inverno, corpo ondulado por magnetismo erótico, caminhava em linhas tortas e escuras. Saltava de pouso em pouso, sua mente devaneava em busca de seus olhos.
Virou a página e o enredo era o mesmo, falta uma meia em seus pés para aquecê-los, levantou-se colocou o chá sobre a cômoda, abriu a gaveta, apanhou o par de meias e calçou-a. Voltou à mesma posição, mas uma página.
Cerrou os olhos e viajou em curvas arrepiadas de seu corpo, molestou-se com um toque sutil, seus olhos a olharem fixamente para aqueles olhos profundos que fogem em tímida euforia de mim, posicionou as mãos em sua cintura e sugou todo o seu ar. Respirou profundamente, escorregou suas mãos mais abaixo e em movimentos leves se contorceu em arrepios.
As páginas amareladas de palavras em frágil dramaturgia foram se distanciando sem poderem ser lidas, escorregou por entre seus dedos, repousando sobre seu diafragma. Em movimentação constante as paginas se inflavam cada vez mais, em um leve balançar musicado por movimentos corporais solitários e frios.
Cada vez, mas o olhar se aproximava carregado de euforia, entusiasmo e saudade. Em cada parede a umidade de um ar poluído por você, a cada movimento a sensação de um desejo nostálgico, a cada respiração a distancia de ti. Os lençóis dançavam, moviam-se como véus em suposta ventania, a cômoda parecia se movimentar, bailar, um estrondo de pulsação, calor, umidade, frenesi, tesão...
Teus olhos se distanciam, o calor permanece em úmido entusiasmo, respiração, saudade, apenas lembrança.
Abro os olhos e percebo que derrubei o chá quente em minha cama.