sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Véu de Fumaça

Havia muita fumaça, não sabia ao certo o que havia ocorrido me deitei e peguei no sono. Acordei com a casa repleta de uma fumaça acinzentada de cheiro doce. Nunca havia sentido um perfume tão doce em fumaças.
Comecei a tatear as coisas, por um momento parecia que alguém havia acendido um incenso imenso. Os cômodos estavam estreitos e a fumaça não me deixava ver pra onde ir. Deparei-me com uma parede vermelha por ela escorriam algumas gotas de perfume, parecia cheiro de suor misturado a um perfume de lembrança. Vertia como se a parede transpirasse aquela mistura.
Ao longe eu podia ouvir a música de uma noite antiga de amor, segui em meio aquele cheiro que a fumaça possuía, fui seguindo o som daquela canção ao longe por um corredor pude ver a luz do toca cd, cheguei até a música e me rendi em lembranças de lágrimas.
Te vi ali parada me olhando como você sempre fazia. Você vigiava meu sono e ali estava você parada a me olhar.
Eu sabia que aquilo era uma lembrança, o vento soprou aquela fumaça doce e fez com que a cortina balança-se, parecia dançar aquela canção, eu conseguia ouvir as tuas risadas, lembrava do teu sorriso, do gosto do teu beijo e o véu ali dançando.
Por um longo tempo fiquei espreitando a lembrança, mas logo a realidade havia me resgatado.
Deixei a música tocando e continuei a caminhar por entre aquela quimera, vagueava de um cômodo para o outro com o coração na mão e a mente em um longo tempo.
Ouvi um som de talher na cozinha, corri até lá e estávamos rindo entre beijos, abraços e sabores condimentavam. O gosto da comida, em sua pele aquele amor entre dentes e timidez. Deixei cair um prato, abaixei pra catar os cacos e nem percebi que havia cortado as mãos, coloquei os cacos sobre um pano branco com gotas de meu sangue.
Saí dali aflita e esbaforida, decidi ir atrás do foco que causará essa fumaça. Na sala o computador ligado... Na tela uma mensagem sua. Tudo me lembra você.
Cheguei à porta de entrada ou seria de saída? Lá estávamos nós, queimando o nosso amor e nossas lembranças em meio a rosas, sangue, havia uma fogueira imensa de lembranças que fazia a minha mente se esfumaçar.
Escorreguei pelo batente da porta e me sentei pra ver o nosso amor se queimar, lá estava cada momento vivido, as danças, os beijos, as risadas, a sua voz, o seu grito, a sua boca, a sua pele, lá estava você. As lágrimas corriam por si só, molhavam minha face seca.
Encostei minha cabeça na parede e num choro profundo adormeci... Quando acordei a fumaça se dissipará e havia apenas uma brasa a minha frente com pedaços de papel, cartas, flores queimadas, algumas fotografias e sem você! Levantei-me, andei até a uma porta e a música ainda tocava. O vento continuará dançando com o véu.